PORTO DA HORTA E OS SEUS MURAIS
As primeiras pinturas, de que me lembro, no molhe da Horta eram datadas do início dos anos 50 e, quase todas, obra das guarnições dos navios da Armada Nacional que por aqui estacionavam ou faziam escala.
As dos Patrulhas, geralmente, mostravam um desenho do mesmo, a sua identificação e a da tripulação que era pequena.
Depois foram surgindo outras, das mais diversas autorias e, hoje, as muralhas do porto e marina da Horta mostram uma profusão alucinante de formas, cores e mensagens numa evolução permanente.
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Sobre a lenda, mãe deste facto, muito se tem escrito, nos mais diversos idiomas e, ainda, por muito mais numerosos autores.
Talvez o desaparecimento do “Ariadne” na Primavera de 1967 tenha despoletado esta lenda. Embora tenha invernado no porto da Horta, o seu tripulante não deixou nenhuma “marca” do seu veleiro nos seus cais ou molhe.
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Remexendo em velhas fotografias, encontrei esta de 23 de Novembro de 1976 em que se destacam dois veleiros: o trimaran “Silmaril” e o elegante monocasco “Namoey”, ambos eles vítimas deste “fatal” destino reservado, pelo que dizem, aqueles que não respeitaram a lenda.
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O “Silmaril” era um dos projectos mais apreciados dos arquitectos “Bruce & Wilde”. Rápido e seguro, tinha comprovado as suas qualidades ao longo de milhares de milhas percorridas em regata ou em cruzeiro. Contudo, aparelha da Horta em Outubro desse ano sem deixar a sua “marca” e, para o espanto de todos, revira ao largo das costas da Irlanda, para onde navegava.
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Mais complicado foi o naufrágio do “Namoey” que velejava rumo a Halifax sob o comando do experimentado navegador solitário Eddy Bryant. Parafraseando um conhecido escritor, podemos dizer que o Eddy era um “americano tranquilo” e só isto fez com que regressasse ao Faial. Depois de acossado por violentos temporais do Atlântico Norte, o “Namoey” é rolado por duas vagas. Ao recuperar a consciência, o Eddy pensou estar cego, mas ao tentar avaliar a situação pelo tacto num barco inundado, recomeça a ver. O sangue que escorrera de um golpe na testa, ao secar tinha-lhe “selado” os olhos. No último momento, quando o yacht já começava a sua viagem para o fundo do mar gelado, foi salvo por um tanque que o desembarcou no Suez. Com um passaporte e um escasso punhado de dollars no bolso, desconfio que a seu regresso deve ter sido uma odisseia equiparável à do seu naufrágio.
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Mas também naufragam veleiros que pintaram no porto da Horta. Só me interrogo se a LENDA é mesmo lenda, ou se estes serão as excepções que confirmam a regra…
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Foto e Texto - João Carlos Fraga ©
1 comentário:
É interessante estas fotos antigas, pois permitem ver embarcações já desaparecidas, como o Terra Alta e o San Diego varados no plano inclinado e o atuneiro "Garça" com a matricula nº1.
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