terça-feira, 2 de dezembro de 2008

OPERAÇÕES NAVAIS NO ATLÂNTICO

SUBMARINOS AMERICANOS NA HORTA EM 1917

Image Credits - Naval Historical Center

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-Como aparece este submarino na Horta?

Um pouco de história:

(totalmente baseado no livro «Os Açores e o Controlo do Atlântico», de António José Telo, que recomendo para todos os que se interessam por História, e na pesquisa na Net, que «vale o que vale»).

Portugal entrou oficialmente na 1ª Guerra Mundial em 9 de Março de 1916.

Até Abril de 1917 os Açores estavam na periferia da zona de operações navais do Atlântico e ainda não tinham sido visitados por submarinos alemães.

Em fins de Maio do mesmo ano os EUA, no âmbito da sua estratégia geral de «avanço» para o teatro de operações na Europa, iniciam (e posteriormente concluem) o processo de instalação de um depósito de carvão de 10.000ton, para serem utilizados como ponto de apoio intermédio pelos navios de pequeno porte que atravessam o Atlântico, e que ficará no porto de Ponta Delgada.

No dia 4 de Julho, pelas 15h00, surge no horizonte desta cidade o U-155 que de imediato começa a efectuar fogo sobre o porto e zona do dito depósito.



Image Credits - Naval Historical Center

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-Que defesas havia nesta altura nos portos dos Açores?

A resposta directa é «quase nenhuma», mas carece de algum enquadramento, que não se irá desenvolver.

Basicamente diremos que os nossos esforços se concentravam no Continente e África, estando a defesa dos Açores e Madeira, por acordo anterior, ao cuidado da Inglaterra (com a sua Royal Navy), que obviamente também não era nenhuma devido ao empenho dos seus recursos em áreas consideradas mais importantes para este país.

Da parte portuguesa, havia em Ponta Delgada desde 1916 duas baterias de cinco peças retiradas de antigas canhoeiras coloniais. Foram montadas em duas pequenas elevações da cidade: Mãe de Deus, o seu sítio deveria ser onde actualmente se encontra a ermida Mãe de Deus, e o Espaldão, que não consegui localizar. Ambas tinham um mau ângulo de tiro, pequeno alcance e cadência lenta.

Já agora, na Horta foi colocada uma bateria de peças K.9 (das quais não consegui nenhum resultado de pesquisa na Net), que, ainda segundo António Telo, se encontravam em tão mau estado que punham em perigo os artilheiros nas raras vezes que as disparam.




Image Credits - Naval Historical Center

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-Voltemos à acção do U-155, e da nossa proverbial «sorte»:

Para surpresa do submarino alemão, este começa a receber tiros de terra de onde não esperava (uma análise posterior a estas acções verifica que o submarino «sabia ao que vinha», tendo-se aproximado pelo ângulo morto das peças existentes em terra).

Os micaelenses estão com sorte. No dia 18 de Junho tinha dado entrada no porto o cargueiro Orion, para reparações, tendo ficado com a sua popa em terra, o que por feliz acaso faz com que uma peça de 100mm nela colocada, fique numa posição alta, com excelente ângulo de tiro, por cima do quebra-mar.

A tripulação é rápida na resposta, o duelo dura cerca de 12 minutos, obrigando o U-155 a submergir e afastar-se. Este volta à superfície, agora a uma prudente distância de 3 a 4000 jardas, focando-se no Orion. As peças de terra ajudam quando conseguem ter o submarino no seu limitado ângulo de tiro, mas é graças ao Orion que o submarino se afasta pelas 21h00.

Em Ponta Delgada foi o delírio, chegando posteriormente a haver uma foto do comandante do navio , J. Boesch, numa marca de charutos...




Image Credits - Naval Historical Center

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Este episódio, segundo António Telo, marca o ponto de viragem no modo dos americanos verem os Açores. Novamente de modo resumido, como a Inglaterra não cumpre a sua parte na defesa do arquipélago, vão os EUA fazê-lo.Para defender os Açores (e sobretudo Ponta Delgada e o depósito de carvão) são enviados uma força de «destroyers» já um pouco antiquados:


- o USS Panther (que é o navio de apoio) -> link´s:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Panther


- o «destroyer» USS Smith (DD-17), -> link´s:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Smith


- o «destroyer» USS Lamson (DD-18) -> link´s:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Lamson


- o «destroyer» USS Preston (DD-19)-> link´s:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Preston


o «destroyer» USS Flusser (DD-20) -> link´s:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Flusser


o «destroyer» USS Reid (DD-21) -> link´s:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Reid


Esta força constitui-se como a 1ª Divisão de «destroyers».Operam nos Açores de 26 de Julho ao início de Outubro de 1917, seguindo para a Europa onde são considerados mais necessários.Mas os americanos não desistem do seu papel nos Açores. Esta força irá ser substituída por outra, de composição inovadora para as tácticas da época: a Patrol Force Azores Detachment.


Era composta pelo:


- o monitor USS Tonapah (BM-8)-> link:

http://www.tendertale.com/tenders/007/007.html


- o «destroyer» USS Truxtun (DD-14) -> link:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Truxtun


- o «destroyer» USS Whipple (DD-15) -> link:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Whipple


- a canhoeira USS Wheeling (PG-14) -> link:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_Wheeling


- e uma divisão de submarinos da classe K (foi a primeira vez que os EUA destacam submarinos para fora das suas águas), que assim forma a chamada 4ª Divisão de Submarinos, composta pelo:


- o K-1 (SS-32) -> link:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_K-1


- o K-2 (SS-33) -> link:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_K-2


- o K-5 (SS-36) -> link:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_K-5


- o K-6 (SS-) ->link:

http://en.wikipedia.org/wiki/USS_K-5


Para quem quiser saber como eles vieram e actuaram nos Açores:


http://sub-log.com/united_states_submarines_in_wwi


ou fotos do seu interior:


http://www.pigboats.com/subs/k-boats.html


Mais tarde activar-se-ia, também em Ponta Delgada – após um estudo inicial na Horta - uma pequena base de hidroaviões, também neste caso a primeira vez que os EUA destacaram uma força de aviões)E são estes submarinos a razão de ser deste post. Os primeiros submarinos a entrarem no porto da Horta!As suas características encontram-se nos link´s acima, mas resumidamente:


- deslocamento: 521ton submerso/322ton à superfície

-armamento: 4 tubos lança-torpedos de 18 polegadas

-velocidade: 14 nós à superfície e 10 nós em imersão

- tripulação: 28 homens


Para se ter uma data de referência na sua actuação nos Açores, descobri que a primeira patrulha deu-se a 1 de Novembro de 1917 pelo K-2.



Image Credits - Naval Historical Center


A actividade deste destacamento (navios e hidroaviões) foi a de patrulhamento, escolta a navios avariados, intercepção de comunicações e recolha de náufragos. Não detectaram nenhum submarino alemão, assim como mais nenhum submarino rondou de modo impune os portos açorianos. O destacamento bateu-se com grandes problemas técnicos nos submarinos e nos hidroaviões, causando grandes períodos de inoperacionalidade nalgumas unidades. Mesmo assim, estes submarinos efectuaram patrulhas no arquipélago e é de supor que visitariam com alguma frequência o porto da Horta até ao final da guerra.

A 14 de Outubro de 1918 o NRP Augusto de Castilho é afundado após combate com o U-139, conseguindo no entanto que o vapor S. Miguel, que escoltava do Funchal para Ponta Delgada, escape. O comandante do U-139, Lothar von Arnauld de la Perière, foi o mais bem sucedido ás de submarinos da história, com 194 navios e 453 716 toneladas de arqueação bruta afundados (fonte: Wikipédia)A 1ª Guerra Mundial terminou a 11 de Novembro de 1918.

Pesquisa e texto: António Godinho

Fotos: (US) Naval Historical Center


Image Credits - Naval Historical Center

5 comentários:

Luís Correia disse...

Um excelente trabalho, com excelentes fotos e excelentes links. Mais um grande contributo do nosso colaborador AMG.

(01-12-2008)

Anónimo disse...

Excelente mesmo.

(02-12-2008)

Anónimo disse...

Através do Luís silva, encontrei este link que, pelas fotos, dá uma ideia do canhão descrito por António Telo, que haveria na Horta durante a 1ªGuerra Mundial:
http://www.network54.com/Forum/330333/thread/1184284120

(07-12-2008)

Luís Correia disse...

Grande peça, lol
Ainda bem os inimigos, não quiseram nada com o Faial.

(08-12-2008)

Anónimo disse...

São das tais decisões típicas: tranquilizam quem decide (colocá-las) e angustia quem as vê ... (ou nelas manobra).
Continuamos na mesma... e não aprendemos nada.

(09-12-2008)